
Tais Muchinsky Chicanoski, de 30 anos, foi diagnosticada com neurite óptica pós-viral, tipo de inflamação imperceptível para outras pessoas. Segundo especialista, condição afeta capacidade de movimentar os olhos para focar em objetos. Paranaense acorda com mancha preta na visão e descobre doença rara
A paranaense Tais Muchinsky Chicanoski, de 30 anos, descobriu uma doença rara nos olhos há cerca de três meses. Poucas semanas após enfrentar sintomas virais semelhantes aos da Covid-19, ela acordou enxergando uma mancha preta no campo de visão do olho esquerdo.
Inicialmente, a profissional acreditou ser um problema momentâneo, mas após continuar com dificuldade para enxergar ela procurou especialistas e foi diagnosticada com neurite óptica bilateral. Imperceptível para outras pessoas, a doença é caracterizada por inflamações nos nervos dos dois olhos e pode levar à cegueira.
✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp
✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram
“Pensei que a mancha fosse um cisco e não dei atenção imediata, mas no dia seguinte percebi que ela não sumia – ao contrário, aumentava. Trabalhar diante do computador tornou-se impossível. […] Passei por exames detalhados que confirmaram o que realmente estava acontecendo, e foi o começo de uma corrida contra o tempo”, contou ela, ao g1.
Moradora de Palmeira, nos Campos Gerais do Paraná, Tais conta que só chegou ao diagnóstico correto após procurar uma segunda opinião médica: o primeiro oftalmologista que procurou diagnosticou, sem exames, um quadro de toxoplasmose ocular. Saiba mais abaixo.
Ela decidiu procurar uma clínica especializada em olhos e foi a Curitiba em busca de exames.
“O médico recomendou investigação com neurologista e cardiologista, além de exames para afastar possibilidades graves como AVC e esclerose múltipla. O desespero tomou conta. A sensação era de estar lidando com algo muito maior e ao mesmo tempo invisível para a maioria das pessoas e até mesmo para os sistemas de saúde. Os exames cardíacos e neurológicos, felizmente, não mostraram alterações preocupantes. O diagnóstico final foi de uma condição pós-viral, como consequência inflamatória de um possível vírus”, afirma.
O médico oftalmologista João Guilherme Oliveira de Moraes, cirurgião-chefe da clínica na qual Tais está fazendo tratamento, conta que a neurite óptica é uma doença rara.
Entre os sintomas, explica o oftalmologista, estão manchas e embaçamento na visão e alterações na movimentação ocular; ou seja, na capacidade de movimentar os olhos para focar em objetos ou realizar outras tarefas visuais.
De acordo com ele, a incidência é de um a cinco casos a cada 100 mil pessoas.
“A neurite óptica é mais comum em pessoas mais velhas. Também é raro haver neurite em quadros pós-virais, mas ela acende um alerta sobre a possibilidade de outras doenças. É mais comum de dela ser associada a esclerose múltipla, por exemplo, e por isso é necessário investigar outras condições”, explica o especialista.
Navegue nesta reportagem:
O que é neurite óptica
Paranaense descobriu doença rara ao procurar segunda opinião
Autônoma teve que se afastar do trabalho devido à mancha na visão
Tais Muchinsky Chicanoski, de 30 anos, foi diagnosticada com neurite óptica pós-viral
Arquivo pessoal
O que é neurite óptica
A neurite óptica é uma inflamação que provoca inchaço no nervo óptico, estrutura responsável por transmitir informações do olho para o cérebro para produzir imagens. Justamente por isso, a doença pode causar perda de visão.
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) explica que a principal causa para a condição é a esclerose múltipla, e frequentemente ela aparece como o primeiro sintoma da doença neurológica. Outras causas, explica a instituição, são doenças autoimunes como lúpus e sarcoidose e infecções virais (como herpes zoster, sarampo e caxumba) – como os médicos acreditam que foi o caso de Tais.
Ela não chegou a fazer teste para descobrir qual vírus a infectou, mas, pelos sintomas, acredita ter sido Covid-19, contra o qual não havia tomado vacina.
O tratamento é feito com o uso de corticoides por cerca de um mês. Apesar de rápido, ressalta o médico, acende o alerta para a investigação de outras possíveis doenças.
“No caso de qualquer doença, as pessoas devem ficar alerta aos sintomas. A orientação é: sempre, a qualquer sinal, procure ajuda”, aponta Moraes.
Mais reportagens sobre saúde:
Coloboma: Jovem vive com ‘olho de gato’, condição ocular rara que mudou formato e posição das pupilas
Glioblastoma: Jovem descobre câncer raro após fortes dores de cabeça e morre durante tratamento
Suor excessivo e falta de ar: Veja sintomas que levaram caminhoneiro a perceber que estava infartando enquanto dirigia
Paranaense descobriu doença rara ao procurar segunda opinião
Tais Muchinsky Chicanoski, de 30 anos, foi diagnosticada com neurite óptica pós-viral
Arquivo pessoal
No dia 30 de janeiro, Tais começou a sentir dores nas articulações. Poucos dias depois, os problemas aumentaram.
“Logo outros sintomas se manifestaram de forma intensa e inesperada: dor atrás dos olhos, dor de cabeça insuportável a ponto de não conseguir ficar de pé, febre de 38ºC e um corpo febril, como se algo estivesse muito errado. Curiosamente, não havia sinais de gripe ou resfriado”, conta.
“No dia 4 de fevereiro, sem suportar mais a dor de cabeça e o incômodo nos olhos, fui ao pronto atendimento. O médico plantonista sugeriu que pudesse ser um quadro viral ou até mesmo Covid-19, embora não tenha sido solicitado teste. Para controlar a dor, me indicaram dipirona; era o único alívio temporário que encontrava, já que nem mesmo o sono ameniza o sofrimento”, lembra ela.
A mancha na visão apareceu no dia 25 de fevereiro, e três dias depois ela consultou com um oftalmologista. Segundo a paranaense, ele não a submeteu a nenhum exame e, pelo fato de ela ter mais de 20 gatos em casa, a diagnosticou com toxoplasmose ocular.
“Saí de lá com uma receita cheia de medicamentos, sem sequer uma investigação concreta. Exames só foram pedidos porque solicitei. Felizmente, meu noivo me impediu de iniciar o tratamento. Os sintomas pareciam incoerentes com aquele diagnóstico. Buscamos, então, uma clínica especializada em Curitiba”, relata.
Autônoma teve que se afastar do trabalho devido à mancha na visão
Tais Muchinsky Chicanoski, de 30 anos, foi diagnosticada com neurite óptica pós-viral
g1
Tais trabalha de maneira autônoma como social media, profissional responsável por gerenciar e produzir conteúdos para redes sociais. Com os problemas de visão, ela precisou se afastar das telas – e, consequentemente, do próprio trabalho.
Foi cerca de um mês de tratamento com corticoides e outros dois reduzindo o acesso a computadores e celulares.
Atualmente, a paranaense tenta voltar à rotina. Três meses após o surgimento do problema na visão, ela conta que a mancha na visão diminuiu, mas ainda não desapareceu por completo.
“Hoje, sigo em acompanhamento com oftalmologista e outros especialistas. Ainda estou processando tudo. […] Sintomas estranhos, falta de respostas, diagnósticos equivocados. Minha história é um alerta: quando seu corpo grita, não ignore. Insista, investigue, procure outras opiniões. Sua visão e sua vida podem depender disso”, desabafa.
Vídeos mais assistidos do g1 Paraná:
Leia mais notícias da região em g1 Campos Gerais e Sul
Por G1
Share this content: